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O TEMPO NO CONTEXTO AGRÍCOLA DA AMAZÔNIA

O TEMPO NO CONTEXTO AGRÍCOLA DA AMAZÔNIA

Ana Maria Oliveira Seixas Ferreira

Mestre em Bioética pela Universidad Europea del Atlántico


RESUMO 

A prática e a técnica de cultivar o solo, especialmente a produção da mandioca para a farinha, fizeram ou fazem parte da vida de moradores de comunidades amazônicas. Quanto ao homem trata-se de uma espécie muito mais! recente e, diferentemente das formigas e térmitas, não nasceu agricultor ou criador. Ele assim se fez após centenas de milhões de anos de hominização, isto é, de evolução biológica, técnica e cultural. Foi apenas no neolítico – há menos de 10.000 anos – que ele começou a cultivar as plantas e criar animais, que ele mesmo domesticou, introduziu e multiplicou, em todos os tipos de ambiente, transformando, assim, os ecossistemas naturais originais em ecossistemas cultivados, artificializados e explorados por seus cuidados. Desde então a agricultura humana conquistou o mundo, tornou-se o principal fator de transformação da ecosfera, e seus ganhos de produção e produtividade. O objetivo do presente artigo é mostrar como o tempo atua no contexto agrícola da Amazônia, do período medieval até o período contemporâneo. O tempo tornou-se um aspecto importante na agricultura amazônica, visto que os ancestrais usavam o sol para saber a hora e a lua para plantar. Essas sequências recorrentes, como o ritmo das marés, os batimentos do pulso ou o nascer e o pôr do sol ou da lua, foram utilizadas para harmonizar as atividades dos homens e para adaptá-las a processos que lhes eram externos.

Palavras-chave: Agricultura. Tempo. Homem. Amazônia. 

RESUMEN

La práctica y la técnica de cultivo de la tierra, especialmente la producción de yuca para la harina, hicieron o hacen parte de la vida de los habitantes de las comunidades amazónicas. Además del hombre es una especie mucho más recientes y, a diferencia de las hormigas y termitas, no nació agricultor o criador. El. por lo tanto, se hizo después de cientos de millones de años de humanización, es decir, de evolución biológica técnica y cultural. Fue sólo en el Neolitico – hay menos de 10.000 años- que comenzó a cultivar plantas y criar animales, que el mismo introdujo domesticado y multiplicó en todos los tipos de medio ambiente, transformando así los ecosistemas naturales originales en ecosistemas cultivados, artificiales y explotados por su cuidado. Desde entonces, la agricultura humana conquistó el mundo: se convirtió en el principal factor de transformación de la ecosfera, y sus aumentos de la producción y la productividad. El propósito de este artículo es mostrar cómo el tiempo actua en el contexto agrícola de Amazonia del periodo de Edad Media hasta la época contemporánea. El tiempo se ha convertido en un aspecto importante de la agricultura amazonica, ya que los antepasados utilizaron el sol para saber la hora y la luna para plantar. Estas secuencias recurrentes, como el ritmo de las mareas, la frecuencia del pulso o el amanecer y la puesta de sol o de la luna, fueron utilizados para armonizar las actividades de los hombres y adaptarlos a procesos externos a ellos.

Palabras-llave: Agricultura. Tiempo. Hombre. Amazonia. 

INTRODUÇÃO 

Na Amazônia as técnicas, estratégias e artefatos de cultivar o solo, criar gado, de pescar e caçar se aproximam, mas podem não ser iguais, assim como outras podem não ser praticadas. Na verdade, toda forma de agricultura praticada em um tempo e lugar aparece em princípio como um objeto ecológico e econômico complicado, composto por várias categorias de estabelecimentos que exploram diferentes tipos de solos e diversas espécies de plantas e animais. Além do mais, as formas de agriculturas observáveis variam conforme o lugar, a tal ponto que uma região do mundo a outra, podemos classificá-las em gêneros muito diferentes (rizicultura irrigada, pastoreio, cultivos associados, arboricultura). Enfim, com o tempo, toda agricultura se transforma.  

Na Europa sucederam-se o cultivo manual com derrubada-queimada, – como ocorre ou ocorreu na Amazônia – dos tempos pré-históricos: o cultivo de cereais com a utilização do arado escarificador da Antiguidade; o cultivo de cereais com o emprego do arado na Idade Média: o policultivo associado à criação animal sem alqueive da época moderna; os cultivos motorizados e mecanizados de hoje. 

Contudo, o homem, tal qual a evolução produziu, não era dotado de ferramentas anatômicas especializadas, nem de um modo de vida geneticamente programado que lhe permitisse, desde a origem, uma intervenção vigorosa no meio exterior. Desprovido de pinça. presas, ganchos. dardos, defesas, escamas, cascos, garras. o homem dispõe de mãos, que, se de um lado são o mais leve e o mais polivalente dos instrumentos, não são por si mesmas senão um dos instrumentos mais moles e uma das armas mais frágeis. Só podia sobreviver pela colheita dos produtos vegetais e pela captura de animais mais acessíveis, em meios poucos hostis ou dispondo de locais protegidos.

Com a evolução e transformações de técnicas agrícolas, o tempo servia aos homens essencialmente, como meio de orientação no universo social e como modo de regulação de sua coexistência. Com isso, os relógios passaram a desempenhar um papel importante, pois, nos permitem medir alguma coisa, não é o tempo invisível, mas algo perfeitamente possível de ser captado, como a duração de um dia de trabalho ou de um eclipse lugar. 

Para a construção desse artigo foram realizadas pesquisas bibliográficas quantitativas, utilizando obras literárias, artigos, internet e revistas científicas. De acordo com Gil (2000):

Objetivando assim a análise do tempo no contexto agrícola da Amazônia, bem como a relação do homem com o tempo e a agricultura.

O HOMEM E AGRICULTURA 

De acordo com Mazoyer e Roudart (2010. p. 57) entre as milhares de espécies que a evolução produziu em 3,5 milhões de anos, o Homo sapiens sapiens – homem atual ou moderno, o homem pensador e sábio – é uma espécie muito recente. Ela se disseminou rapidamente por todos os continentes e há 10.000 aproximadamente praticando o cultivo e a criação, modificando profundamente a maior parte dos ecossistemas do planeta. 

O tempo servia aos homens, essencialmente, como meio de orientação no universo social e como modo de regulação de sua coexistência. Podemos imaginar que, no tempo de nossos ancestrais, um determinado grupo, subitamente promovido de um estado pré-humano, um estado propriamente humano, e que não dispusesse de nenhum conhecimento prévio, possa ter ficado imediatamente em condições de identificar aquela faixa estreita e alongada de luz, percebida no céu.

Coulanges (2009) contextualiza que a prática de se reproduzirem os vegetais comestíveis por meio de mudas como ocorre com a tamareira, a oliveira, a macieira e a videira, provavelmente vem das culturas mesolíticas. 

Todos os indícios sugerem que a agricultura surgiu independentemente em várias regiões do planeta. No tocante ao cultivo das principais espécies, acredita-se que tenha despontado em três grandes áreas: a China, o Sudeste Asiático e a América tropical. Povos europeus e africanos podem ter iniciado por conta própria o cultivo de algumas plantas, com que complementariam a caça e a pesca.

A agricultura medieval apresentava um desempenho produtivo baixo que limitava a ocorrência das trocas naturais e do comércio. Em geral, essa característica subsistente está relacionada à má qualidade das sementes utilizadas e a limitação dos instrumentos e técnicas da época. Apesar da relevância desses fatores, devemos levar em conta que os camponeses medievais também empregavam o sistema de rotação de culturas. Nesta técnica, um lote de terras cultiváveis era dividido em três porções equivalentes. Nas duas primeiras, o servo estabelecia a plantação de duas culturas distintas. Já o lote restante não era aproveitado para que, assim, o lote de terras não fosse completamente desgastado.             

 Apesar de contribuir significativamente para a redução da colheita, o sistema de rotação de culturas acabava tendo outra finalidade. A cada ano, a terra era diferentemente trabalhada. Com isso, os nutrientes utilizados por uma cultura eram reservados no ano seguinte. Além disso, já era predeterminado que uma parte do campo sempre estaria em completo repouso. Dessa forma, a rotação de culturas – apesar de limitar a produção – ampliava a vida útil de todo o terreno. (http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageralo-sistema-producaofeudal.htm)

Se o homem abandonasse todos os ecossistemas cultivados do planeta, estes retornaram rapidamente a um estado de natureza próximo daquele no qual ele se encontrava há 10 mil anos 

Os primeiros sistemas de cultivo e de criação apareceram no período neolítico, há menos de 10 mil anos, em algumas regiões pouco numerosas e relativamente pouco extensas do planeta. Originavam-se da autotransformação de alguns dos sistemas de predação muito variados que reinavam então no mundo habitado. Essas primeiras formas de agricultura eram certamente praticadas perto de moradias e aluviões das vazantes dos rios, ou seja, terras já! fertilizadas que não exigiam, portanto, desmatamento

  A partir daí, a agricultura neolítica se expandiu pelo mundo de duas formas principais: os sistemas pastorais e de cultivo de derrubada-queimada. 

Toda forma de agricultura praticada em um tempo e lugar aparece em princípio como um objeto ecológico e econômico complicado, composto por várias categorias de estabelecimentos que exploram diferentes tipos de solos e diversas espécies de plantas e de animais.

A agricultura tal qual se pode observar em um dado lugar e momento aparece em princípio como um objeto ecológico e econômico complexo, composto de um conjunto de estabelecimentos agrícolas vizinhos, que estabelecimentos agrícolas vizinhos, que entretém e que exploram a fertilidade desse meio.

O homem, ao longo de quase todas as épocas da sua história, produziu obras físicas Procurando vencer os desafios para as capacidades técnicas do seu tempo, traduzindo as marcas e características em que foram construídas.

Na véspera da aparição da agricultura, a população humana estava em plena expansão graças ao desenvolvimento dos modos de predação sempre mais diversificados e eficazes. É inegável que a duplicação da população humana, que passou de 5 a 50 milhões de habitantes entre 10.000 e 5.000 anos antes de nossa Era, foi essencial ao desenvolvimento planetário da agricultura neolítica.  

No curso dos anos 2.000 que se seguiram, entre o ano 1.000 a.C. e o ano 1.000 d.C. a população mundial mais que dobrou, passando de 250 milhões de indivíduos aproximadamente, devido ao desenvolvimento dos sistemas hidráulicos de rizicultura de várzea dos vales e deltas da China, da Índia, do sudeste asiático e, em menor escala, devido ao desenvolvimento dos sistemas de agricultura hidráulica (Olmeca. Maias, Astecas, sociedades pré-incaicas etc.) que existiram na América durante esse período. 

 A contribuição da agricultura europeia ao aumento da população mundial só se tornou marcante com a revolução agrícola da Idade Média: dos séculos XI ao XIII O desenvolvimento dos sistemas de cultivos com pousio e de tração pesada permitiu triplicar ou mesmo quadruplicar a população europeia.

No Velho Mundo, a agricultura surgiu em zonas áridas ou semiáridas, tirando partido das margens úmidas dos rios, para lutar contra a escassez das chuvas. Na América, a agricultura desenvolveu-se principalmente em planaltos pouco chuvosos onde hoje estão a Bolívia, o Peru, o México e o extremo sul dos Estados Unidos. Atribui-se a data muito remota o início do cultivo de alguns tubérculos no sopé dos Andes. E é certo que, do lado oposto, nas huacas peruanas do litoral, encontram-se, em níveis arqueológicos que remontam a cerca de 2000 a.C. algumas plantas já cultivadas, como a pimenta, a abóbora e o feijão. 

 O TEMPO NA AGRICULTURA DA AMAZÔNIA

Segundo o Pe. João Daniel (1975. p.30). Pizarro navegou com sua grande tropa por muitas semanas e muitos meses, admirando a grandeza do rio, a fertilidade das suas ilhas e as suas margens. Encontrou vários obstáculos assim como a imensidade de selvagens tapuias, que por vez o assaltaram nos seus arraiais, e ainda pretendiam impedir a navegação. Além do mais disputaram com eles a navegação e a viagem, um exército de mulheres, pelas alturas do Rio Trombetas lhe saindo ao encontro em inumeráveis canoinhas feitas  de cascas de árvores, jogando com destreza os seus arcos e flechas, e lutando com ânimo varonil. 

A posição de domínio da espécie humana na Terra seria inconcebível se não lhe tivesse ocorrido, desde seus primeiros ensaios de vida em grupo, metodizar e incrementar a extração de alimentos que a natureza espontaneamente lhe dava. O surgimento de técnicas de plantio e, a seguir, de criação de animais foi o pilar central da formação de sociedades estáveis em que o homem passou de coletor, ou predador, a construtor engenhoso da sobrevivência grupal. 

O conjunto dessas técnicas deu forma a mais antiga das artes, que iria transformar-se, ao passar dos séculos, numa ciência de leis codificáveis e em renovação permanente: a agricultura, palavra que deriva do latim ager, agri (campo, do campo) e cultura (cultura, cultivo) – o modo de cultivar o campo com finalidades práticas ou econômicas.

 Mesmo depois de haverem atingido um estágio em que já se sentiam bastante seguros de seu saber em relação à regularidade das trajetórias do Sol e da Lua, os homens ainda continuam incapazes, durante muitos séculos, de calcular de antemão, às cegas, por assim dizer, as posições e formas de manifestação cambiantes desses astros. Quando essas luminárias do céu desapareciam por um momento, durante um eclipse solar ou lunar, por exemplo, ou quando modificam sua aparência, como a Lua em suas fases crescentes e minguantes, os homens não tinham a mesma segurança que temos hoje do retorno desses astros a sua posição ou sua forma anteriores, após um prazo que hoje sabemos fixar com precisão. 

A Amazônia compreende todas as terras da bacia amazônicas: Acre, Amapá, Amazonas. Pará. Rondônia. Roraima e Tocantins, e parte dos Estados do Mato Grosso e Maranhão.

A Amazónia é um imenso laboratório de vida. Perdido e complexo, no meio do mundo amazônico, o homem ocidental que para cá emigrou nas naus colonizadoras, ou nos navios que traziam os aventureiros da borracha ainda é um estranho. Chegou aqui em pequeno número, voltou, em boa parte, assentou aqui uma economia tênue e ainda vive com saudade de voltar a terra de onde veio, onde o sol não queima o ano inteiro, onde o frio chega sempre a seu tempo e traz a neve, onde o vinho alegra a alma e aquece o corpo, se não faltar nunca o pão e os frutos que a terra produziu, sob o sol generoso no verão. O homem ocidental não veio para ficar na Amazônia, veio para enriquecer e voltar a gozar das delícias da terra de origem. Ficou por acidente. 

Conforme Homma (2003, p.13) várias personalidades influenciam, em maior ou menor grau, nos destinos da agricultura na Amazônia. Henry Alexander Wickham, por exemplo, quando conseguiu transportar as 70 mil sementes de seringueira coletadas em um pequeno vilarejo, Boim, na margem esquerda do Rio Tapajós, modificou o eixo da Amazônia. 

Outros exploradores arriscaram as suas vidas para conhecer esta região. Na atualidade, os progressos tecnológicos, como as imagens de radar e de satélite e a melhoria dos meios de comunicação tendem a reduzir a importância dos primeiros exploradores que cruzaram a região em todos os sentidos. Os fantasmas dos diversos vultos históricos permeiam essa cronologia: Francisco Orellana, Frei Gaspar de Carvajal. Lopes de Aguirre, Pedro Teixeira, Cristobal de Acuña, Charles-Marie de La Condamine. Henry Walter Bates, Richard Spruce. Alfred Russel Wallace, Henry Alexander Wickham, Visconde de Mauá. Percival Farquhar, Euclides da Cunha. Henri-Anatole Coudreau, entre outros. Todos esses vultos possuíam qualidades que aparecem combinadas em um mesmo indivíduo: persistência, otimismo, percepção original dos problemas e convicção intuitiva de avançar a fronteira do desconhecido com extrema independência. 

É preciso entender que os povos da Amazônia não vivem isolados no tempo e no espaço, pelo contrário, sempre estabeleceram — e continuam a estabelecer — relações de trocas materiais e simbólicas entre si, com as comunidades vizinhas e com os agentes mediadores da cultura, entre o mundo rural e o urbano e a vida em escala global. A Amazônia nasce e se desenvolve no âmago e nos dilemas da moldura da civilização euro antropocêntrica. 

 As descobertas das riquezas da biodiversidade amazônica, como: cacau, seringueira, castanha-do-pará. pau-rosa, guaraná, açaí, cupuaçu, pupunha. jaborandi, consideradas as mais importantes, atraíram aventureiros e modificaram o panorama econômico e social da região. A seringueira e o cacau, plantas levadas da Amazônia, mudaram a civilização do Planeta, onde as regiões e os países em que foram introduzidos transformaram-se em grandes centros produtores mundiais. 

A existência de vestígios de magníficas construções das civilizações maias, incas e astecas constituem indicadores de uma agricultura capaz de produzir grande excedente alimentar. Foram essas civilizações que legaram dezenas de plantas que se tornaram universais, como o tomate, a batata inglesa, o milho, o cacau, o fumo, o algodão, bem como a domesticação de animais. 

A paleontóloga Anna Curtennius Roosevelt constatou a presença dos primeiros paleoindioshá cerca de 11.200 anos no Estado do Pará. Esses paleoindios viviam da coleta de frutas nativas e da pesca e chegaram a deixar pintura nas cavernas. 

Segundo Elias (1998) nos primeiros grupos de caçadores, pastores e agricultores, a necessidade de uma atividade de fixação do tempo ou de uma datação” era mínima, sendo igualmente mínimos os meios de realizá-los. 

 Os ancestrais de todos os membros das sociedades industriais, com seus incontáveis relógios. viviam em pequenas comunidades de caçadores, pastores ou agricultores, e prescindem desses instrumentos. O legado da agricultura indígena na Amazônia compreendia, portanto, o conhecimento da cultura da mandioca, o aproveitamento de centenas de frutas nativas, plantas medicinais, técnicas de caça e pesca, corantes, oleaginosas, aromáticos, tóxicos, etc. 

Para Farias (1981) o mundo do desenvolvimento da Amazônia é um mundo  diferente, habitado por homens também diferentes. Sabe-se que o mundo é limitado, com recursos limitados. Nossa nave pode ser conservada limpa, eficiente para a vida, fecunda, assim como pode ser degradada e até destruída. 

A agricultura, na Amazônia, tem que utilizar o mesmo processo que a natureza, ao criar a selva. A vida vegetal como toda a vida na terra é obra da energia que vem do sol, utilizando a água e o carbono como matérias-primas, sob um suporte de solo. A água completa a composição celular do corpo vivo e é o veículo de nutrientes, da terra para a planta. A terra é o suporte da planta e fornece a ela os nutrientes minerais. A Amazônia tem energia, água e solo em abundância para gerar e suportar as plantas.

De acordo com Matos (2015. p.200) o sistema de cultivo do solo mantém a tradição passada por seguidas gerações, mas que teve alicerce nas práticas primitivas e segue a dinâmica de brocar ou roçar (tosquiar a vegetação como cipós e arbustos) a área principal, que pode ser capoeira ou mata primária. Na sequência, faz-se a derrubada, que se realiza entre os meses de julho, agosto ou setembro: passado dois ou três meses, é feita a queimada em setembro ou outubro, período em que as folhas secam no intenso verão. 

O hábito alimentar impulsiona a produção de farinha de mandioca.

Explica Pe. João Daniel (1976. p.303) que se fabricava a farinha de pão de um arbusto ou planta, que teria vários nomes: porque sua haste se chama maniba, a folha de maniçoba, e a raiz mandioca, de que há várias espécies. A que chamam macaxeira, é de todas, a mais estimada. A raiz chamada mandioca cresce mais ou menos conforme as espécies. Das raízes dela se fazem quatro castas de farinha principalmente. A primeira e mais mimosa e estimada é a farinha d’água: a segunda farinha seca, que equivale a broa; a terceira é carimã muito fina; e a quarta é a farinha de tapioca. 

Não se plantava somente a mandioca, mas se semeava também o milho e também o algodão ou legumes, com a mesma facilidade de esconder o grão na terra. Com a vazante do rio se tornou mais fácil semear, pois basta meter o grão e colhê-lo no seu tempo.

 A partir do século XVII, a agricultura era praticada na extensão do vale amazônico, as missões montaram um sistema agrário combinado com a organização dos índios aldeados em espaços próprios. As aldeias mostravam-se rentáveis na extração, na agricultura, na pesca, na caça e na criação de gado nos solos (campos e campinas) férteis em toda a extensão do Rio Amazonas e seus afluentes ao qual organizaram zonas agrícolas que apresentavam condições favoráveis à organização de circuitos de escoamento e de comercialização da produção. 

 Para Teixeira (2009, p. 77) a caça e a pesca, ao lado do roçado, completam hoje as atividades que fazem parte do trabalho realizado pelo seringueiro no meio extrativista. Deve se notar, no entanto, que o caboclo amazonense é muito mais afeiçoado à pesca do que a caça. A pesca aproxima-se mais da vida da roça vivenciada pelo beiradeiro, enquanto a caça associa-se mais ao trabalho da seringa propriamente dito. A pesca, mais ligada ao caboclo nativo, é sem dúvida, uma herança recebida dos antepassados indígenas, bastando para isso observar os instrumentos usados para executá-la, como a flecha, o arco, a zarabatana ou a zagaia. Além disso, o caboclo nativo da Amazônia nunca pôde identificar-se bem como a seringa, pois sempre esteve mais acostumado à vida livre que levava na beira do rio. 

A agricultura urbana pode ser desenvolvida em pequenas áreas com plantios de cebolinha, cheiro-verde, salsa, hortelã, couve, vinagreira, caruru, que são denominadas de dezessete verdurinhas”. 

Conforme Mazoyer e Roudart (2010. p. 42) apesar dos milhões gastos em sua promoção, a agricultura “moderna”, que triunfou nos países desenvolvidos utilizando muito capital e pouca mão de obra, penetrou apenas em pequenos setores limitados dos países em desenvolvimento. A grande maioria dos agricultores desses países é muito pobre para adquirir maquinário pesado e grandes quantidades de insumos. A agricultura moderna está, portanto, muito longe de ter conquistado o mundo. As outras formas de agricultura continuam predominantes e ocupam a maioria da população ativa dos países em desenvolvimento.

No decorrer da segunda metade do século XX, a revolução agrícola contemporânea (elevada motorização-mecanização, seleção de variedades de plantas e de raças de animais com forte potencial de rendimento, ampla utilização dos fertilizantes, dos alimentos concentrados para o gado e produtos de tratamento das plantas e dos animais domésticos) progrediu vigorosamente nos países desenvolvidos e em alguns setores limitados dos países em desenvolvimento.

 Nos países desenvolvidos, os agricultores, que já eram relativamente produtivos, beneficiaram-se de políticas de apoio ao desenvolvimento agrícola, assim como preços agrícolas reais que, no início do período considerado, eram muito mais elevados que os atuais, ainda que pudessem investir e progredir ao máximo. 

 Em 2050, nosso planeta contará com aproximadamente 9 bilhões de seres humanos (entre 8 e 11 bilhões) segundo as últimas estimativas das Nações Unidas publicadas em 2001. Apenas para alimentar corretamente uma determinação população, sem subnutrição nem carência, a quantidade de produtos vegetais destinados à alimentação dos homens e dos animais terá que dobrar no mundo inteiro. 

Para obter um aumento da produção agrícola tão significativo, a atividade agrícola deverá ser estendida e intensificada em todas as regiões do mundo em que isso for sustentavelmente possível. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Dentre os instrumentos mais antigos de medição do tempo figuravam os movimentos do Sol, da Lua e das estrelas. Mas nossos ancestrais distantes ainda não estavam em condições de relacionar os múltiplos movimentos dos corpos celestes. Com isso, o plantio e o cultivo de vegetais se davam a tal fato.

Conclui-se que a teoria dos sistemas agrários é um instrumento intelectual que permite apreender a complexidade de cada forma de agricultura e de perceber, em grandes linhas, as transformações históricas e a diferenciação geográfica das agriculturas humanas.               

A agricultura faz novos avanços no sentido de descobrir novas maneiras de enriquecimento do solo. Novas plantas estão sendo pesquisadas com a capacidade de fixar no solo elementos enriquecedores. Sendo o paraíso do mundo vegetal, a Amazônia precisa procurar na vida vegetal a maneira de enriquecer seus solos pobres e sustentar a agricultura.

Novas formas de organização agrícola estão sendo procuradas no mundo desenvolvido que evitem as desvantagens da organização imposta pelas exigências da tecnologia vigente. A Amazônia não parece fadada para as grandes extensões de cultivos agrícolas. Precisa-se procurar a organização que mais se assente as suas condições. 

REFERÊNCIAS 

BATISTA. Djalma. O complexo da Amazônia – Análise do processo de desenvolvimento. Manaus: Editora Valer, Edua e Inpa, 2007. 

DANIEL, Pe. João. Tesouro descoberto no máximo Rio Amazonas. Vol.1. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional. 1976. 

DANIEL. Pe. João. Tesouro descoberto no máximo Rio Amazonas. Vol.2. Rio de Janeiro: Contraponto. 2004.

 ELIAS. Norbert. Sobre o Tempo. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. FARIAS. Edison Bentes. Amazônia: os fatos, as hipóteses. Manaus: Editora Metro Cúbico, 1981.

 FRAXE. Therezinha de Jesus Pinto: WITKOSKI, Antônio Carlos; MIGUEZ.Sâmia Feitosa. O Ser da Amazônia: Identidade e Invisibilidade. Disponível em: < https://www.cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252009000300012 Acesso: 06/01/17 

GIL, A.C. Técnicas de Pesquisa em Economia. São Paulo: Atlas. 2000. 

HOMMA, Alfredo Kingo Oyama. Agricultura na Amazônia: o futuro é plantar sem derrubar. In: GEEA: Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos, Caderno de Debates, Tomo IV. Manaus: Editora INPA. 2011. 

MATOS, Glaucio Campos Gomes. Ethos e figurações na hinterlândia amazônica. Manaus: Editora Valer/Fapeam. 2015. 

MAZOYER. Marcel: ROUDART, Laurence. História das agriculturas no mundo – do neolitico à crise contemporânea. São Paulo: Editora UNESP: Brasília, DF: NEAD, 2010. 

SILVA. Soraya Gramsda. Agricultura. Disponível em: <https://www.monografias.brasilescola.uol.com.br/agricultura-pecuaria/agricultura.htm> Acesso: 06/10/17 

TEIXEIRA, Carlos Corrêa. Servidão humana na selva – o aviamento e o barracão nos seringais da Amazônia. Manaus: Editora Valer/Edua. 2009.

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