THE IMPACT OF THE URBAN BUS DRIVER’S ACTIVITY ON HIS PSYCHOSOCIAL
Francelee Ferreira Leite Silva [1]
Jardel Claudino Pereira Santos [2]
Resumo
Neste artigo buscou-se apresentar as condições de trabalho do motorista de ônibus urbano na cidade de Manaus – AM, e suas relevâncias têm um impacto não só em suas atividades de trabalho mas, como também em sua vida social (família). Objetiva-se a entender o desenvolvimento de distúrbio físico (doenças desenvolvidas por movimentos repetitivos e cansaço) e psíquicos, causados por cobranças administrativas (por parte da empresa empregadora) e a violência urbana (no trânsito e/ou dos próprios passageiros do transporte coletivo), que são frequentes neste grupo de trabalhadores e, ocasionam impacto no desempenho profissional. Analisam-se um depoimento e as conclusões dos estudos levantados a respeito da relação entre a atividade e a percepção de fatores psíquicos do trabalho como variáveis independentes que transfigura-se em um estímulo psicossocial ruim. Pode-se observar também através da contribuição de estudos de alguns autores, a necessidade de um olhar mais cuidadoso para com esses profissionais e seu ambiente de trabalho.
Palavras-chave: Saúde Mental; Fadiga Ocupacional; Impacto Psicossocial.
Abstract
In this article we sought to present the working conditions of urban bus drivers in the city of Manaus – AM, and their relevance has an impact not only on their work activities but also on their social life (family). The aim is to understand the development of physical disorders (diseases developed by repetitive movements and tiredness) and psychological disorders, caused by administrative charges (by the employing company) and urban violence (in traffic and/or by public transport passengers themselves) , which are common in this group of workers and impact professional performance. A statement and the conclusions of the studies raised regarding the relationship between the activity and the perception of psychological work factors as independent variables that transform into a bad psychosocial stimulus are analyzed. It can also be observed through the contribution of studies by some authors, the need for a more careful look at these professionals and their work environment.
Keywords: Mental Health; Occupational Fatigue; Psychosocial impact.
INTRODUÇÃO
O objetivo teórico do estudo aqui apresentado é a apreciação do dia-a-dia do profissional que tem em seu ambiente de trabalho um potencial do adoecimento mental quase que imperceptível, mas ao longo da sua vida profissional fica cada vez mais visível o impacto psicossocial. O objetivo é colaborar para que teoricamente possamos compreender e de qual maneira se possa fazer um plano de ação contra esse inimigo invisível, ou seja, interferir profissionalmente de modo positivo onde o colaborador se sinta acolhido, ambarado e não constrangido com a falta da percepção do adoecimento mental. Com apresentação atual da pesquisa e mais no rastreamento teórico realizado, refere-se à delimitação da trajetória do debate conceitual tendo como foco as abordagens e perspectivas que entende-se atividade e ambiente de trabalho. Ao longo dos anos, mais precisamente no final do século XIX, se intensificou-se os estudos, o experimentalismo de Wundt (e o estruturalismo de Titchener) dos erros e ilusões emergentes no processo cognitivo, passou ter uma visão hegemônica no campo psicológico, através da noção ao ambiente. No processo do rastreamento, auxiliem-me na genealogia da Psicologia que entende o trabalho enquanto atividade, que tem como objetivo fazer com que o ambiente de trabalho seja agradável ao trabalhador. Faverge (1966a; FAVERGE; LEPLAT; GUIGUET, 1958) foi o pesquisador que liderou o estudo inicial no entendimento da adequação, colaborando decisivamente para a construção de uma corrente da PT&O que tem constante crescimento na relação dinâmica com a Ergonomia (especialmente na Ergonomia da Atividade). Onde passou a ser designada resumidamente Psicologia Ergonômica[3] por outro pesquisador citado neste estudo: Leplat (1972, 2011). Destacando-se com a crescente complexidade dos novos sistemas técnicos (LEPLAT, 2006).
Dessa forma vale ressaltar que todas essas características citadas até aqui, são inerentes à atividade do motorista de ônibus urbano, que é o sujeito da pesquisa. Entre vários estudos avaliados, verificou-se a semelhança dos resultados negativos quanto às condições físicas e de saúde mental (em longo ou curto prazo) dos motoristas de ônibus urbanos. Dos rastreamentos traz a deficiência na estrutura administrativa das empresas em não possuir uma medicina preventiva psíquica aos seus colaboradores (MAYOLINO, 2000).
Estudos realizados comprovam que os motoristas de ônibus urbanos estão mais propensos a alto risco de problemas com saúde e acidentes no trabalho se comparado a qualquer outro trabalhador em outras profissões (KOMPIER, 1996).
REVISÃO DO CAMPO
A jornada diária do motorista de ônibus urbano tem em sua atividade um excessivo trabalho físico e mental e que a qualidade ou deficiência do meio ambiente que eles interagem é fundamental para as suas ações. Este meio ambiente compreende o meio ambiente interno (leiaute do posto do trabalho) e o meio ambiente externo (interferências climáticas, tráfego intenso, violência urbana, etc) tendo, ambos, o mesmo grau de importância no que diz respeito à interferência na execução das atividades, essa combinação do meio ambiente traz um grande potencial de estresse e fadiga física. Kompier (1996).
Sendo submetido diariamente a essas condições diversas do trabalho que a qualidade ou deficiência do meio ambiente é insalubre, consequentemente se inicia o adoecimento mental e que é invisível no dia-a-dia do motorista de ônibus urbano, que resulta no impacto psicossocial e lógico tem aí o risco de doenças ocupacionais e a perda na produtividade de empregados e empresas.
Ser um bom profissional, terminar sua jornada de trabalho com o mesmo ânimo que se iniciou e/ou poder retornar a sua residência, é o desejo de todo motorista de ônibus urbano, mas isso nem sempre é possível como motorista de ônibus urbano, são muitas as semelhanças dos males que afetam esses profissionais e, isso em quaisquer grandes metrópoles.
METODOLOGIA
Estes estudos têm como natureza uma pesquisa descritiva, devido aos estudos que identificam relação com as palavras “Motorista de Ônibus Urbano”, “Ergonomia da Atividade”, “Saúde Mental”, “Impacto Psicossocial”, envolvendo vários artigos sobre os conceitos abordados, filtrando-se para especificamente motorista de ônibus urbano – público alvo desta pesquisa. Nesta etapa, será feita uma análise destes estudos sobre que resultados dos mesmos apontam, de acordo com os fatores de risco psicossociais do trabalho relacionados à profissão de motorista de ônibus urbano. Busco apontar os fatores de exposição dos riscos físico, biológico e ergonômico baseados nas normas regulamentadoras NR – 15 e NHO 06. Após isso, para a natureza do estudo inclui-se a pesquisa exploratória com o depoimento de um sujeito envolvido com o perfil para pesquisa, com um roteiro livre para perguntas abertas a respeito da vida deste sujeito como motorista de ônibus urbano.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Manaus: Terra de Oportunidades
Manaus, nos bancos do Rio Negro no noroeste do Brasil, é a capital do vasto estado do Amazonas. Trata-se de um ponto de partida importante próximo à Floresta Amazônica. A leste da cidade, o Rio Negro, escuro, converge para o Rio Solimões, barrento, resultando em um fenômeno visual incrível chamado de “Encontro das Águas”. A combinação dos afluentes forma o Rio Amazonas. Hoje com uma População: 2.063.547 milhões (2022), tem seu prefeito o Sr. David Almeida, possui um Polo Industrial.
Com a criação da Zona Franca de Manaus, a região Norte foi efetivamente colocada no mapa do Brasil, possibilitando com que a cidade de Manaus alcançasse o oitavo PIB brasileiro, sendo a primeira do ranking no eixo Norte/Nordeste, além de ser a sétima cidade mais populosa do país. A Zona Franca de Manaus surgiu em 1967, durante o regime militar, por meio do Decreto-Lei nº 288/67. A finalidade inicial desse projeto era estabelecer incentivos fiscais por 30 anos para criar um pólo industrial, comercial e agropecuário na Amazônia, Com o passar dos anos, o prazo para esses incentivos fiscais foi aumentando e atualmente eles se estendem até 2073. Na prática, a ZFM é um grande polo econômico dividido em três grandes áreas: comercial, industrial e agropecuário. A proposta da Zona Franca de Manaus, ao reunir diversas grandes empresas, passa pela movimentação de faturamentos bilionários e gera mais de meio milhão de empregos diretos e indiretos. Bueno (2024).
E assim se iniciava a vida de várias famílias nordestinas, vinda para Manaus-AM. Com a expectativa de dias melhores, um jovem de uma dessas família aprendeu a dirigir com o pai e os tios (ambos motoristas de Táxi em Manaus), porém viabilizando em ter uma profissão que lhe desse uma vida estável com os direitos trabalhistas, se habilitou e capacitou para ser motorista em categoria D; na época com a mão de obra escassa na categoria de motoristas de ônibus na cidade de Manaus, logo foi contratado, mesmo não tendo o ensino fundamental completo (requisito não exigido na época). Aqui tudo vira uma possibilidade de trabalho, é claro que existem problemas inerentes a quem busca uma profissão e/ou um trabalho, seja formal ou informal, é bem visível para quem chegar aqui com uma bagagem cheia de expectativas de vida e isso é válido para quem também já mora aqui. Podemos ressaltar que oportunidade não significa exatamente uma profissão, mas sim a facilidade de evitar o ócio do desemprego. Por todas essas possibilidades e com mercado em potencial crescimento, Manaus tem grande diferencial frente a outras metrópoles do Brasil: as oportunidades.
Início da Carreira
O Motorista de Ônibus Urbano conta que iniciou na sua profissão alguns anos atrás, em empresas quem nem mais existem na cidade de Manaus, mas já chegou a fazer de tudo, sempre ligado ao volante de veículo (leve ou pesado), sempre dirigindo com segurança no trânsito, um dos problemas que ele enfrenta todos os dias no já citado trânsito caótico das avenidas e ruas da capital do Amazonas.
[…] iniciei como motorista de ônibus especiais, fazendo rotas para empresas no Polo Industrial de Manaus, e fiquei por 4 anos, foi um bom início, me preparei para atuar em outras frentes, nesse período em que fiquei fazendo rotas para empresas do Distrito. Também tive experiência dirigindo caminhão de entrega de materiais de construção em Manaus e, há cerca de 21 anos, iniciei no sistema coletivo urbano de Manaus. Como disse, as oportunidades aparecem, cabe a você pegá-las ou não […] (depoimento do Motorista X).
Motorista de Ônibus Urbano e sempre dentro da cidade de Manaus, foi através dessa profissão que sempre sustentei e mantive minha casa e família. Ao longo desses anos em vários horários e linhas coletivas e sempre com um ‘bom dia’, ‘boa tarde’ ou ‘boa noite’ aos passageiros, sejam eles os já conhecidos ou não. Mesmo quando havia pequenos conflitos entre passageiros e cobrador, pois muitas vezes como parceiro de trabalho e/ou responsável pela ordem no ambiente interno do ônibus, esse é um dos atributos da atividade do motorista de ônibus urbanos, tinha que intervir para minimizar a discordância e até mesmo ficar calado quando eram desferidas palavras de baixo calão a nós profissionais do coletivo público, isso durante muitos anos, mas sempre buscando uma boa convivência no ambiente de trabalho.
[…] Meu filho quando ainda pequeno, sempre me falava que queria ser como eu ‘motorista de Ônibus’, aos domingos e/ou nos feriados quando eu estava trabalhando, sua mãe (minha esposa) o levava para passear nas minhas últimas viagem do dia, os olhos dele brilhavam quando me via dirigindo aquele grande carro (o ônibus), isso me enchia de alegria e eu via isso com muita satisfação de retorno da minha profissão. Hoje, meu filho já adulto seguiu outra direção profissional; lógico fiquei muito feliz pela escolha dele, mas assim como outrora me resplandecia em saber que meu filho queria ser como eu profissionalmente e, por causas de variantes negativas da atividade da profissão de Motorista de Ônibus Urbano, deixei de ser um espelho a ser seguido. E nos dias de hoje me sinto cansado, desanimado, humilhado, estressado, constantemente irritado e até agressivo no simples ‘bom dia’ onde antes era com muito prazer em desejar aos primeiros passageiros do dia […] (depoimento do Motorista X).
Rotina do Motorista
Ao chegar na empresa onde trabalha, o motorista de ônibus urbano tem que procurar o ônibus na garagem da empresa, já que ele inicia o turno do primeiro dia, mas não é o profissional que vai finalizar o dia. Sua jornada de trabalho começa fazendo uma revisão precisa e completa no ônibus (interno e externo), tipo um checklist de permissão de trabalho, pois assim ele pode garantir que iniciaram a jornada de trabalho sem algum problema mecânico e/ou tirar de si a responsabilidade de algum dano que terceiros possam ter feito no carro (ônibus) após o fim da jornada de trabalho no dia anterior. Os passageiros que constantemente utilizam o ônibus nos seus deslocamentos, o qual o motorista dirige no turno matutino, verão uma cena recorrente e para alguns até mesmo reconfortante: o sorriso de bom dia do motorista de ônibus de profissão. Por uma boa convivência diária com seus passageiros que iniciam suas viagens diariamente rumo ao trabalho ou até mesmo para a escola e faculdade enfim para resolver algo do seu dia a dia, hoje o jovem já adulto e pai de sua própria família, destaca que um desejo de bom dia acompanhado com um belo sorriso no rosto é a melhor maneira de se preparar para uma longa jornada e, quem saber receber também o afeto como retorno, assim pode até iniciar uma boa amizade, ou mesmo só der a satisfação de poder mudar o dia das pessoas para melhor e também ter um dia menos estressado.
[…] Acaba se tornando uma convivência sadia o qual passa se transformando em amizade. Por meio de conversas diariamente com usuários constantes do ônibus em que trabalho, você passa de alguma forma, fazer parte da vida daquela pessoa, seja ela um trabalhador, estudante ou só mesmo passageiro, ao ponto de sentirmos falta um do outro quando não aparece no horário de costume […] (depoimento do Motorista X).
Após ‘largar’ – jargão popularmente dito que indica o fim da jornada diária de trabalho -, é hora do mesmo enfrentar o retorno a sua residência, atividade que é repetida durante seis dias da semana e mais de anos de trabalho na escala do itinerário do ônibus, sendo que inicia sua jornada diária ainda de madrugada, para não deixar atrasar sua primeira viagem que se inicia às quatro horas da manhã e finalizar com a última viagem às quatorze horas e dez minutos, isso se não houver nem um sinistro no trânsito que possa atrapalhar o percurso do itinerário do ônibus. Como de costume no caminho do trabalho para casa têm um comércio (bar) onde sempre parar antes de chegar realmente em sua residência; no local à mesa de sinuca, televisão, som e alguns conhecidos para conversa, lógico acompanhado de boa cerveja gelada, local aconchegante para o fim da jornada de trabalho do dia, que foi estressante, em um dia de verão, no início mesmo com a implicação da minha esposa, para mim era algo ou um costume inofensivo.
[…]via nesse local um amparo amigável para descansar, renovar as forças para uma nova jornada do dia seguinte e concluir que tudo vale a pena[…] (relata o Motorista X).
Condições de Trabalho ㆒ Deveres do Motorista de Ônibus Urbano
Hoje, Manaus conta com uma frota de ônibus urbanos que corresponde 1.216 coletivos para atender todo o território metropolitano, desses somente 50% das frotas são de ônibus novos equipados com ar condicionados e em ótimas condições de uso (veículos modernos), já um avanço significativo, porém o restante da frota que ainda circula pela cidade é de ônibus sucateados sem nenhum conforto térmico, acústico e com assentos danificado. Mas independente das condições do ônibus, o motorista tem de zelar pelo seu instrumento de trabalho e a segurança dos seus usuários, além lógico cumprir a Lei n° 2.898, de 09 de julho de 2022 – Dispõe sobre os Serviços de Transporte Público Coletivo de Passageiros no município de Manaus (citação desta lei, 2022).
Os pontos da Seção III, no inciso segundo desta lei, o motorista, na execução do serviço, está obrigado a: I) conduzir de modo a proporcionar segurança, conforto e regularidade dos serviços aos passageiros; II) não movimentar o veículo com as portas abertas; IV) manter a ordem, podendo se socorrer de reforço policial para tanto, e zelar pelo veículo; V) alertar aos usuários acerca da impossibilidade de atividade de vendedores ambulantes e presença de pessoas embriagadas ou inconvenientes no interior do veículo, podendo se socorrer de reforço policial para sua retirada; VII) buscar solução para o transporte de passageiros embarcados, em qualquer caso de interrupção da viagem; VIII) atender ao sinal de parada para embarque e desembarque de passageiros; IX) prestar informações ao Órgão Gestor quando este requisitar; X) não portar arma de qualquer natureza durante o serviço; XI) tratar o usuário com urbanidade; XII) respeitar, principalmente nos terminais, os limites de velocidade, estacionamento, ordem pública, além de evitar poluição sonora, perturbação da vizinhança e transeuntes; e XIII) cobrar tarifa do passageiro quando a operação da linha for de caráter específico determinado pelo Órgão Gestor.
Além disso, o Art. 9° O Órgão Gestor (IDEM, 2022) poderá exigir o afastamento de qualquer preposto do prestador de serviço que violar os deveres de conduta previstos nesta Lei, em seus regulamentos ou por descumprimento de ordem expressa prevista em ato normativo.
Fatores de Risco Psicossocial do Trabalho Associados ao Adoecimento Mental dos Motorista de Ônibus Urbano
Diversos são os fatores de estresse identificados em motoristas de ônibus urbano, dentre os mais comuns estão à exigência de elevada atenção, concentração, alta capacidade de memorizar os itinerários a serem percorridos, os horários extremamente rigorosos, cobranças para manter as viagens sem atrasos, mesmo diante de inúmeros contratempos, intempéries, assaltos sempre com violências extremas (tanto física, como psicológicas), trânsito fatigante, controla e/ou fazer economia do combustível do ônibus, atenção maior ao tráfego não só veicular mas também dos passageiros (população idosa) que entrar e saí do ônibus, sem falar que os motoristas ainda tem que proibir os vendedores ambulantes dentro do ônibus, algo quase impossível, pois já que os mesmo entram nos terminais acessando o interior do veículo pelas portas de trás e grande responsabilidade, em razão de transportar vidas. Fazer toda essa organização do trabalho (acúmulo da função motorista e cobrador, tempo de intervalo, folga), o motorista de ônibus urbano tem diariamente em sua atividade um potencial perigo para a saúde e o bem-estar geral. E isso não traz nem um enriquecimento positivo, mas sim uma fadiga do profissional. Os discursos registrados na entrevista, retratam com clareza esses fatores de risco, situações desconfortáveis na atividade do motorista de ônibus urbano na capital de Manaus. No entanto, sendo difícil ou não, é exatamente o fato de o motorista ter uma atividade que lhe assegure seus direitos trabalhistas, proporcionado pelo ofício como motorista de ônibus urbano.
O Impacto Psicossocial
Com tanta pressão psicológica no dia a dia de sua atividade profissional, via alívio na cerveja (bebida alcoólica) no fim de cada turno, e mesmo assim, chegava em sua casa muito irritado e lógico, além de bêbado o que o levava a briga familiar. Não percebendo que estava ficando nas condições de adoecimento mental e também com isso afastando de todos ao seu redor. Pois o impacto não era só financeiro, já que era a renda principal de sua casa, mas também em seu ambiente de trabalho e até social com os amigos mais próximos. Enfim, a fadiga psicológica estava afetando a todos que conviviam com o mesmo, ao longo desses anos. É lógico que para sua família foi difícil também, pois não sabia como ajudá-lo a ver que sua atividade profissional estava lhe adoecendo. Passou a ser constantemente uma preocupação a seus familiares, pois todos podiam ver o quanto depressivo se encontrava com relação ao seu emprego e junto veio também algumas doenças como: alteração de pressão arterial, obesidade e ficar pré-diabete. Esses impactos constantes da atividade do motorista de ônibus urbanos, são fatores que adoecem mentalmente e emocionalmente e trazem consigo as doenças que afetam fisicamente.
Depressão
Com o consumo constante de bebidas alcoólicas (via como um escape mental), passou a se isolar, não saindo mais com seus familiares e amigos, não participando de eventos sociais, coletivos do trabalho e nem mesmo mais no bar, passou ficar sozinho consumido suas bebidas e, quando pessoas falavam que estava mudado, ele respondia que não era obrigado a agrada ninguém. Sua conduta profissional também foi abalada, com constante ausências, com isso sofrendo penalidade administrativas dos seus superiores, como por exemplo: suspensão disciplinar, perdas de premiações (bônus) e até perdas de escalas de alguns itinerários em que trabalhava. Passou a se sentir humilhado, derrotado em seu ambiente de trabalho.
Uma Luz de Salvação
[…] quando percebi que a atividade de minha profissão que outrora foi orgulho de meu filho, sustento de minha família e tornando o que sou hoje, não quis mais ser motorista de ônibus urbano, pois não me alegrava como antes, ou seja, passei ir por obrigação e não porque um dia sonhava em ser motorista de ônibus […] (depoimento do Motorista X).
Hoje, ainda como motorista de ônibus urbano e faltando aproximadamente 9 anos para uma possível aposentadoria, faz tratamento das doenças pré existentes à base de medicações e consultas médicas, principalmente ao psicólogo que o atende uma vez no mês. Passou a ter uma convivência mais familiar e social com amigos, diariamente ao fim do dia buscar fazer atividade física (recomendação médica)o que ainda é difícil, pois ainda se sente fatigado por sua atividade profissional.
[…] Não é fácil sair de uma dependência de longo tempo. Mas necessário, por mim, pela família que me ama e principalmente pela Adria, minha netinha que me vê pelo vídeo chamada toda feliz e com os mesmos brilhos nos olhinhos de outrora que seu pai me via […], (depoimento do Motorista X).
Essa entrevista mostrou que o motorista de ônibus urbano, têm como principais constrangimentos no ambiente de trabalho: os passageiros (que em sua minoria são usuários de entorpecentes e que são desrespeitosos), dupla função e uma jornada do itinerário cansativo. As questões sobre a demanda psicossocial que foram mostradas aqui com a finalidade, resultando em construtos, físico e ambientais (ruído, intempéries, ventilação), posto de trabalho ( visibilidade externa e interna, comando porta e fluxo de passageiros), que são ignoradas muitas vezes pelo o profissional de Saúde e Segurança do Trabalho ( SST ) existente no quadro profissional das empresa de ônibus coletivos, para que seja comprida o que retrata as Normas Regulamentadoras, para essa atividade e para o ambiente de trabalho dos motoristas de ônibus urbano. Os meios e condições de trabalho dos motoristas de ônibus urbano têm sido amplamente observados por pesquisadores e são alvo de preocupação por parte dos responsáveis dos setores de transporte público, devido à grande demanda desses profissionais por terem aposentadoria precoce por problemas de saúde, seja física ou mental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As alternativas para a redução do estresse provocado pela atividade do profissional, seria: Não acumular duas funções durante a jornada de trabalho; intervalo de folga mais flexíveis com um ponto de apoio mais humanizado; uma guarda policial mais presente nas ruas e se possível dentro dos ônibus. Iniciativa das empresas de transporte coletivo urbano na valorização de um bom programa preventivo do PT&O aos colaboradores. Como os estudos trazem de iniciativa e/ou que possam ter urbanidade no desconforto no trato, quando esta é relacionada ao psicossocial? Buscar conhecer a problemática pro futuro tratamento o mais rápido possível. Espera-se que a comunidade e principalmente os gestores empresariais e gestores do poder público, possam trazer mais respeitos humanizados a esses profissionais que diariamente prestam um serviço essencial a toda população manauara.
REFERÊNCIAS
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[1] Discente do Curso Pós-Graduação de Engenharia em Segurança do Trabalho do Instituto FaSerra ౼ Unidade Manaus. e-mail: lee.eletrotecnica@gmail.com
[2] Docente do Curso Pós-Graduação de Engenharia em Segurança do Trabalho do Instituto FaSerra ౼ Unidade Manaus. Mestre em Ciências e Matemática (UFAM). e-mail: jardel.pibid@gmail.com
[3] Denominação utilizada por Leplat desde o início dos anos 1970, sendo que para ele seria sinônimo de uma Psicologia do Trabalho quando em relação com a Ergonomia. Encontra-se a mesma denominação em Sperandio (1980). A respeito, ver também Hoc; Darses (2004).